quarta-feira, 28 de julho de 2010

No apto ao lado

No apto ao lado morava uma flor de cerejeira, mas o vento levou-a um pouco mais ao norte, mas ainda ficou muito dela. Esta Sakura, tem alma de artista, alegria de criança, vaidade de menina nova, que adora balançar a saia de bolinha, e o olho? Ah, esse, fala por si, é rapidinho e de muito bom gosto. Mas é difícil acompanhar o olhar, é muito ligeiro,cheio de novos rumos. Mas de ligeiro é só isso, o resto, é de uma baianisse gostosa.
Levou também o seu fruto, ele é docinho docinho, gostosinho, um amorzinho. Ele me dizia todos os dias: -Aline, Aline, amo vc!!
E então, tem como esquecer? Não dá ?

Minha amiga Cris, foi pra SP, e com a falta dela e do Theo, veio a poesia que há na saudade. Para explicar melhor, postei uma crônica maravilhosa da Marta Medeiros.

Obs.: ela representa a saudade que sinto de todos que estão longe! Amo vcs!!

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Lembranças de uma neta

Quem conhece o meu pai e conhece o meu filho, acaba conhecendo também um pouco do meu avô, o apelido dele era Quintana, não me lembro por quê, sei que já perguntei ao meu pai, mas não me recordo da resposta, assim, como também não recordo de muitas das histórias contadas pelos meu avós, infelizmente.
Bom, digo que os três se parecem, porque meu avô era muito "gaiato", sabe, essas pessoas que adoram pregar peça nos outros, divertir as pessoas, fazer graça e ser popular, conhecido e amigo de todos. Meu avô era assim, meu pai herdou e meu filho também.
Mas uma dessas "gaiatisses" do vô Quintana ficou registrada em livro, vejam só.
Meu avô sempre dizia "Ai , que saudade da Amélia !!", isso bem alto, que toda vizinhança ouvia, não sei bem o motivo, mas acho que era mais para incomodar a minha avó e fazer graça para quem estava próximo, e além disso, inventava para a vizinhança que minha tia ( pouco mais velha que meu pai) era filha da primeira esposa dele, que havia morrido por causa de um raio. E ainda completava que mesmo não sendo filha legítima, minha avó era muito boa e elas se davam bem. Tudo não passava de uma brincadeira, que quando minha avó descobriu, através de uma vizinha que comentou com ela: "Nossa dona Maria, nem parece que vcs não são mãe e filha de verdade, se dão tão bem!", ficou muito brava com ele.
Anos após o falecimento do meu avô, a cidade onde eles moravam lançou um livro contando a história da cidade e descrevendo as principais famílias que fundaram a cidade, e no livro constava que meu avô era casado com Amélia e não com Maria que era a minha avó.
-O Quintana me apronta até depois de morto. _Disse ela, chateada com a confusão!!
Mas nós adoramos a confusão, afinal, será uma lembrança eterna das suas brincadeiras.